Partindo de uma releitura dialética da psicologia junguiana essa palestra mostrará como a polaridade idealismo/materialismo determinou a transformação de uma cultura focada no sagrado em uma cultura moderna focada no profano. No mundo antigo, o idealismo era figura e o materialismo era fundo. A consciência antiga se apoiava em uma experiência religiosa na qual um objeto aparece animado como um sujeito enquanto o sujeito se torna objeto passivo de coisas e situações que o movem, que têm uma vida própria e dizem algo de imperativa importância. O aspecto materialista estava em segundo plano, na vida vivida muito próxima da natureza de forma que suas forças determinavam completamente o modo de viver. Esse materialismo retornava naquilo que o negava, substancializando as ideias, naturalizando-as na forma de figuras espirituais que eram duplos mais sublimes de corpos naturais, assim como retornava também na voracidade da igreja por poder político e riquezas materiais. Hoje é o sagrado que retorna no núcleo do profano que o nega enfeitiçando os itens vendidos na feira. A feira material se tornou ideal e a idealização que marcava a relação com a religião foi transferida para a relação de idealização das mercadorias. Não compramos só os objetos, mas também as ideias, as imagens idealizadas fabricadas pela publicidade. Trata-se de um ideal/materialismo onde a matéria é uma matéria idealizada, sutil, sublime, permeada de imagens de fantasia. Quais as psicopatologias decorrentes dessa dinâmica e como uma psicologia baseada na dialética entre os opostos psíquicos trabalha com elas, são as questões que convidamos todos os interessados a debaterem em conjunto.