Racismo, Transferência e Contratransferência: implicações de um complexo cultural no ambiente psicoterápico
Este trabalho é, principalmente, sobre estereótipos inconscientes que herdamos (transgeracional e cotidianamente) a respeito de pessoas pretas e brancas.
Como analista junguiano (sendo o inconsciente nosso mais importante objeto de trabalho com os pacientes), me interessa examinar as possíveis interferências do racismo estrutural na prática clínica. Para isso, utilizei entrevistas com analistas brancos, sobre seus pacientes pretos; e analistas pretos, sobre seus pacientes brancos. O intuito das entrevistas foi o de analisar materiais da transferência e contratransferência que pudessem também estar sob influência do racismo estrutural.
Algumas perguntas que me nortearam na construção teórica do trabalho:
- Sendo o racismo estrutural (engendra nossos inconscientes com imagens e ideias de racialidade e poder),
- Quais os possíveis desdobramentos nas relações de transferência e contratransferência?
- Quais as implicações no processo de individuação do paciente preto que procura ajuda de um analista branco?
- Qual o papel do analista, seja com pacientes brancos e pretos, na conscientização deste complexo cultural?
- Caberia ao analista assumir uma posição proativa sobre racialidade no Brasil?
Analisando o material das entrevistas e avançando na construção teórica, acredito ter demonstrado que o racismo está presente no ambiente psicoterápico e interfere na relação analista e paciente (imagens estereotípicas que todos nós, tanto pretos quanto brancos, adquirimos sobre racialidade). Minha proposição foi de que todo analista, branco e preto, deve tentar se conscientizar das imagens / ideias / sentimentos a respeito deste complexo cultural. Só assim (assimilando na consciência estes conteúdos inconscientes), é que o analista consegue evoluir com seu paciente para etapas mais transformadores do processo; e evita que transferência / contratransferência negativas levem a uma estagnação do processo.
Algumas reflexões sobre possíveis contribuições dos institutos de formação também foram feitas, talvez até de forma utópica, mas querendo reimaginar novas e possíveis relações de afeto.