A Vivência do Tempo na Terapia
Glauco Ulson
Sinopse: Num percurso que vai da mitologia, passa pela filosofia, ciência e religião, o autor aponta as conseqüências da derrocada da visão de mundo racionalista: a possibilidade de percepção do espaço, do movimento e do tempo anímico, a aceitação do imaginário e do subjetivo, a realidade do inconsciente. Propõe que o tempo é o próprio eixo da alma e mostra, por meio de inúmeros casos clínicos, como ele determina nossas próprias vivências e os processos do mundo anímico.
O sonho em pacientes somáticos
Walter Boechat
Sinopse: O artigo sugere delimitações teóricas nos pensamentos de C. G. Jung e de Michael Fordham para a compreensão da totalidade corpo–mente e dos fenômenos de somatização. Com esses fundamentos, estuda-se o caso clínico de uma paciente com a Síndrome de Sjögren primária, doença auto-imune que atinge as glândulas exócrinas do corpo. Procuram-se ainda fazer correlações entre o símbolo onírico e o corpo adoecido como tendo conotação simbólica. Para tal, o autor faz uma reflexão em Jung: a questão do complexo psicofísico, o instinto psiquificado e o arquétipo psicóide. Em Fordham: o modelo do Si-mesmo primal, a deintegração, reintegração e desintegração. (A somatização vista como uma desintegração.) Partindo desses pressupostos teóricos, estudam-se o campo transferencial, sonhos e evolução do caso clínico, tomando-se em consideração o psicossoma da paciente em sua totalidade.
Reflexões sobre Flexibilidade e Rigidez: o ponto de vista da medicina psicossomática e da medicina arquetípica sobre a inflamação das articulações
Nara Rodrigues Santonieri
Sinopse: O objetivo deste trabalho é refletir sobre flexibilidade e rigidez, comparando o ponto de vista da medicina psicossomática, por meio da obra de Mello Filho, e o ponto de vista da medicina arquetípica proposta por Alfred Ziegler. A inflamação crônica das membranas articulares, a artrite reumatóide, pode levar uma articulação da flexibilidade à rigidez. Verificamos que nos pontos de vista abordados podemos encontrar a causa e o propósito do sintoma, o que faz com que as duas perspectivas se complementem. O trabalho faz menção, outrossim, à original perspectiva de James Hillman, em que ele associa a flexibilidade ao puer e a rigidez ao senex, e nos dá sua proposta de solução para o problema.
Multiplicidade de Lágrimas: o choro e suas diferentes nuances
Letícia Capriotti
Sinopse: Tratando de um assunto que é tão pouco estudado como o choro, esse artigo se dedica a explicitar as diferentes singularidades dos choros: suas diversas causas, funções psicológicas e formas de manifestação. Chamando a atenção para o fato de que dificilmente o choro é respeitado e verdadeiramente ouvido, aqui se fala da possibilidade de refinamento, aprimoramento, “educação” do choro e convida a ouvir o choro com um ouvido mais apurado e atento às nuances e particularidades de cada um. Depois de fazer algumas relações entre o choro e a alquimia, o tema é trazido para o campo específico da prática da psicoterapia, em que se aborda a questão dos diferentes choros do paciente e suas funções e também as reações do analista diante deles, bem como a questão do choro do próprio analista.
Considerações Sobre o Arquétipo do Humor e do Riso
Victor Palomo
Sinopse: Este artigo tem como objetivo fazer algumas considerações sobre o humor e o riso através de períodos históricos, fundamentando suas raízes arquetípicas e tendo como desdobramento o interesse pelo tema presente na obra de Freud e Jung. O autor faz observações a respeito da importância do tema para a psicoterapia.
O PEQUENO PRÍNCIPE, O ARQUÉTIPO DO PUER E A LINGUAGEM ANALÍTICA
Lunalva Fiuza Chagas
Sinopse: Trata-se de uma breve reflexão sobre o processo analítico, inspirada na obra de Antoine de Saint-Exupéry, O pequeno príncipe. Pensando na linguagem essencialmente metafórica do encontro analítico, busquei a relação com esse clássico de Exupéry, uma obra imagética capaz de tocar e espelhar a alma humana em todo o seu mistério e delicadeza de detalhes. Traçando um paralelo com o arquétipo do puer aeternus, o texto segue ressaltando a necessidade de acolher as imagens e solicitações da psique sem cair nos velhos padrões cristalizados no ego. O enfoque se dá no arquétipo em si e não em sua versão patologizada, tão explorada na literatura sobre o puer.
A ERA JK REVISITADA: Uma Perspectiva Simbólica
Helena Saldanha de Azevedo Santos
Sinopse: Este artigo trata de uma análise simbólica de alguns aspectos subjacentes à eleição e ao governo de Juscelino Kubitscheck de Oliveira: o cenário mundial do Pós guerra, o suicídio de Vargas, a história pessoal dele, sua personalidade aberta ao novo, sua criatividade e como ela se vinculava ao “homem cordial” de Sergio Buarque de Holanda. Enfoca também aspectos simbólicos relacionados à implantação da nova capital do Brasil: sua concepção, localização, projeto e a mobilização em torno de sua construção. Faz ainda uma correlação com o que estaria constelado na psique coletiva do povo brasileiro naquela ocasião e o mito do herói.
SACI-PERERÊ: um estudo sobre o arquétipo do trickster
Acací de Alcantara
Sinopse: O artigo aborda o arquétipo do trickster através do mito brasileiro do Saci-Pererê. A autora apoiou-se nos trabalhos realizados por Carl Gustav Jung para que o Saci fosse caracterizado como trickster na Psicologia Analítica e também estudou o pensamento de Câmara Cascudo e Renato Queiroz no âmbito da antropologia. Constata que a parte demoníaca e assustadora presente originalmente no mito foi abolida e o Saci se transformou em uma figura travessa, amigável, um garoto levado. Procurou responder a questão do que teria ocorrido com as características negativas do arquétipo que foram suprimidas da imagem do Saci. Sugere a hipótese de que o material desprezado ganha força no inconsciente e invade a consciência através da característica brasileira esperteza e astúcia, (“ser esperto”, “levar vantagem em tudo”). Desta forma teríamos uma nação sob a regência arquetípica do trickster. Aponta ainda para o paradoxo de que o trickster, em seus dois pólos, o de enganar e o de ser enganado, que conduz à identificação com o lado que engana e nos tornamos, ao contrário, uma sociedade de enganados. Dentro dessa dupla natureza, quem consegue dominá-lo pode obter riquezas, aqui interpretada como um ganho significativo de consciência. A possibilidade de libertação do domínio do arquétipo só pode dar-se através da conscientização, pois dentro do próprio mito se encontra a possibilidade de resolução do conflito; mas para que isso aconteça, ele precisa ser contado/considerado integralmente sem a supressão de traços essenciais.
O resgate de Sofia no mundo pós-moderno
Claudia Morelli Gadotti
Sinopse: A autora inicia o artigo com uma reflexão sobre a afirmação de Luigi Zoja de que o mundo materialista contemporâneo é um mundo antipsicológico. Para compreender essa relação, faz-se um aprofundamento nas influências do sistema capitalista na dinâmica psíquica. Finalmente, há uma amplificação da imagem feminina de Sofia, como uma possibilidade de resgate do mundo imaginário e simbólico que se empobreceu nos dias atuais.